domingo, 11 de novembro de 2018

A HISTÓRIA ESQUECIDA DO 1º BARÃO NEGRO DO BRASIL IMPÉRIO, SENHOR DE MIL ESCRAVOS


Almeida fazia parte de um pequeno grupo de mestiços de origem africana que 
conseguiram ascender financeira e socialmente

Um próspero fazendeiro e banqueiro do Brasil nos tempos do Império, dono de imensas fazendas de café, centenas de escravos, empresas, palácios, estradas de ferro, usina hidrelétrica e, para completar a cereja do bolo, de um título de barão concedido pela própria Princesa Isabel. A biografia do empresário mineiro Francisco Paulo de Almeida, o Barão de Guaraciaba, não seria muito diferente de outros nobres da época não fosse um detalhe importante: ele era negro em um país de escravos.

No ano em que a Lei Áurea completa 130 anos, vale a pena conhecer a trajetória do primeiro e mais bem-sucedido barão negro do Império, um personagem praticamente desconhecido na História do Brasil. Empreendedor de mão cheia e com grande visão de negócios em um país ainda essencialmente agrário, ele tem uma trajetória que lembra a de outro barão empreendedor do Império, este bem mais famoso: o Barão de Mauá.

Com um patrimônio acumulado de 700 mil contos de réis, que garantia ao dono status de bilionário na época em que viveu, Almeida nasceu em Lagoa Dourada, na época um arraial próximo a São João del Rei, no interior de Minas Gerais, em 1826.
A origem da sua família é pouco conhecida. Filho de um modesto comerciante local chamado Antônio José de Almeida, na certidão de batismo consta como nome da mãe apenas "Palolina", que teria sido uma escrava. "Infelizmente não sabemos o destino de Palolina e a quem ela pertencia, mas, sim, ela era escrava", afirma o historiador Carlos Alberto Dias Ferreira, autor do livro Barão de Guaraciaba - Um Negro no Brasil Império.

A secretária administrativa Mônica de Souza Destro, trineta do barão, 
é hoje a guardiã da história da família
O nome, porém, provoca discussões entre os descendentes do barão, já que, por um erro de grafia no registro, "Palolina", na verdade, seria Galdina Alberta do Espirito Santo, esposa de Antônio e considerada pelo próprio barão sua legítima mãe. "Certamente seu pai ou mãe tinham ascendência negra, mas não existe nenhum registro provando que ele era filho de escravo ou escrava", afirma a trineta do barão e guardiã da história da família, a secretária administrativa Mônica de Souza Destro, que mora em Juiz de Fora (MG).
Ainda na adolescência, Almeida começou a vida como ourives fabricando botões e abotoaduras em sua terra natal, na região aurífera de Minas. Nos intervalos, tocava violino em enterros, onde recebia algumas moedas como pagamento e os tocos das velas que sobravam do funeral, que utilizava para estudar à noite. Por volta dos 15 anos, tornou-se tropeiro entre Minas e a Corte, no Rio de Janeiro.
Nessas idas e vindas, ganhou dinheiro comprando e vendendo gado, conheceu muitos fazendeiros e negociantes nos caminhos das tropas e começou a comprar terras na região de Valença, no interior fluminense, para plantar café.
Após casar-se com dona Brasília Eugênia de Almeida, com quem teve 16 filhos, tornou-se sócio do seu sogro, que também era fazendeiro e negociante no Rio de Janeiro.
Certidão de batismo de um dos 16 filhos do barão: Com a morte do sogro, ele assumiu os negócios e sua fortuna disparou
Após a morte do sogro, assumiu todos os negócios e sua fortuna disparou: comprou sete fazendas de café espalhadas pelo Vale do Paraíba fluminense e interior de Minas. Apenas na fazenda Veneza, em Valença, possuía mais de 400 mil pés de café e cerca de 200 escravos. Levando-se em consideração que ele tinha outras áreas produtoras de café, o barão pode ter tido até mil escravos, segundo Ferreira.
"Não se trata de uma contradição ele ter sido negro e dono de escravos, pois tinha consciência do período em que vivia e precisava de mão de obra para tocar suas fazendas. E a mão de obra disponível era a escrava", diz Ferreira.
"Ainda que nos cause repúdio hoje em dia, o contexto de escravidão era uma coisa normal e era mão de obra que existia naquele tempo", completa Mônica, que prepara uma biografia do seu ancestral, ainda sem data para ser publicada.
Imagem mostra uma das fazendas do barão, que teve cerca de mil escravos no conjunto de suas propriedades, o que historiador não vê como contradição: "Essa era a mão de obra disponível"
Em sociedade com outros empreendedores com quem mantinha contato, Guaraciaba tornou-se banqueiro e fundou dois bancos: o Mercantil de Minas Gerais e o Banco de Crédito Real de Minas Gerais. A diversificação empresarial não parou por aí.
Em um período em que as ferrovias começavam a rasgar o território nacional, participou da construção da Estrada de Ferro Santa Isabel do Rio Preto (depois incorporada pela Rede Mineira de Viação), cujos trilhos passavam por suas propriedades, em Valença.
A ferrovia, que ligava Valença a Barra do Piraí e se tornou importante para escoar o café do Vale do Paraíba, foi inaugurada por D. Pedro 2º em 1883. Teriam começado aí as boas relações entre Guaraciaba e a família real, que culminariam na concessão do título de barão pela princesa Isabel, regente na ausência do pai, em 1887.
O título foi concedido por "merecimento e dignidade", em especial pela dedicação de Guaraciaba à Santa Casa de Valença, onde foi provedor. Mas entrar para a nobreza tinha um custo fixo e tabelado pela Corte: 750 mil réis.
Sempre atento às oportunidades de negócios que chegavam com o progresso, Almeida foi sócio fundador da primeira usina hidrelétrica do país, inaugurada em 1889, em Juiz de Fora (MG). A Companhia Mineira de Eletricidade, que construiu a usina, também foi responsável pela iluminação pública elétrica em Juiz de Fora. O barão, claro, foi um dos participantes e financiadores da modernidade que aumentou o conforto da população.
Antiga mansão do Barão de Guaraciaba, chamada de Palácio Amarelo, hoje é sede da Câmara Municipal de Petrópolis, no Rio de Janeiro
Dono de um estilo de vida condizente com a nobreza imperial, o Barão de Guaraciaba possuía uma confortável residência na Tijuca, no Rio de Janeiro, e outra em Petrópolis, destino de veraneio preferido dos ricos e da nobreza.
Na cidade serrana construiu uma mansão que posteriormente foi chamada de Palácio Amarelo e que hoje abriga a Câmara Municipal. Também fazia diversas viagens para a Europa, principalmente para Paris, para onde mandou seus filhos para estudar.
"Guaraciaba distinguiu-se por ter sido financeiramente o mais bem-sucedido negro do Brasil pré-republicano. Ele se tornou o primeiro barão negro do Império, notabilizando-se pela beneficência em favor das Santas Casas", afirma a historiadora e escritora Mary Del Priore.
Segundo ela, Almeida fazia parte de um pequeno grupo de mestiços de origem africana que conseguiram ascender financeira e socialmente.
Após a proclamação da República, Guaraciaba começou a se desfazer dos seus bens, mas viveu uma vida bastante confortável até sua morte
O racismo, porém, permanecia arraigado na sociedade brasileira, independentemente da posição financeira, diz Priore. Alguns desses empreendedores, a exemplo do Barão de Guaraciaba, conquistaram ou compraram seus títulos de nobreza junto ao Império, sendo por isso chamados na época de "barões de chocolate", em alusão ao tom da pele.
"O sangue negro corria nas melhores famílias. Não faltavam casamentos de 'barões de chocolate' com brancas", completa a historiadora.
Após a proclamação da República, Guaraciaba começou a se desfazer dos seus bens, mas viveu uma vida bastante confortável até morrer, na casa de uma das filhas, no Rio de Janeiro, em 1901, aos 75 anos.
Seus herdeiros, inclusive alguns ex-escravos agraciados pelo dono e que permaneceram com o patrão após a alforria, receberam dinheiro e propriedades, e se espalharam pelos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
"Ele foi um grande empreendedor que acabou banqueiro, homem de negócios, fazendeiro e senhor de escravidão. É preciso empenho e coragem dos historiadores para estudar esses símbolos bem-sucedidos de mestiçagem", diz Mary Del Priore, que resgata um pouco da história do Barão de Guaraciaba em seu livro Histórias da Gente Brasileira.


Fonte: BBC News
Por: Marcus Lopes

terça-feira, 6 de novembro de 2018

VOCÊ SABE O QUE É FASCISMO? ENTENDA O TERMO.

A palavra é cada vez mais usada nas conversas sobre política. 
Mas qual sua origem e o que ela significa? 

Em tempos de polarização política, é cada vez mais comum ouvir pessoas se chamando de “comuna” ou “coxinha”. Mas sempre aparece aquele mais entendido que resolve xingar o outro de “fascista”. Faz sentido? Ele realmente sabe o que a palavra significa? E você?

A palavra “fascismo” vem do italiano fascio, que significa “feixe”. Na Roma Antiga, o fascio (também conhecido como fascio littorio), era um machado revestido por varas de madeira. Ele geralmente era carregado pelos lictores, guarda-costas dos magistrados que detinham o poder. O fascio podia ser usado para punição corporal, e também era um símbolo de autoridade e união: um único bastão é facilmente quebrável, enquanto um feixe é difícil de arrebentar.


No século 20, o político italiano Benito Mussolini se apossou desse símbolo para seu novo partido. Em 1914, ele fundou o grupo Fasci d’Azione Rivoluzionaria (mais tarde, em 1922, surgiria o conhecido Partido Nacional Fascista). O uso do fascio não foi à toa. A Itália enfrentava uma profunda crise desde sua unificação tardia (concluída em 1870), e as consequências da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) pioraram a situação. Mussolini prometia, com o fascismo, trazer de volta os tempos áureos do antigo Império Romano.

Em 1919, os italianos Alceste de Ambris e Filippo Marinetti publicaram o Il manifesto dei fasci italiani di combattimento, texto hoje conhecido como Manifesto Fascista, que propunha um conjunto de medidas para resolver a crise da época. Nas décadas seguintes, o termo “fascismo” passou a ser usado para designar as políticas adotadas por Mussolini e seus seguidores.

O regime de Mussolini começou oficialmente em 1922, quando ele assumiu o cargo de primeiro ministro da Itália, e foi um sistema político nacionalista, imperialista, antiliberal e antidemocrático. Ele implantou um governo totalitário que privilegiou conceitos de nação e raça sobre os valores individuais. O fascismo italiano quase acabou em 1943, quando os países Aliados invadiram a Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. 

Mas os nazistas ainda deram uma segunda chance ao ditador: os alemães reocuparam a Itália, resgataram Mussolini e o levaram para o norte do país, onde ele tentou restituir seu governo. No fim, em 1945, os Aliados tomaram o norte e Mussolini foi capturado e fuzilado por guerrilheiros da resistência italiana. Seu corpo foi exposto em praça pública. Com a derrota da Itália (e das forças do Eixo) na guerra, “facista” virou um termo pejorativo.

Mas, o que exatamente foi o fascismo nem os maiores estudiosos sabem definir com precisão. Não existe nenhuma definição universalmente aceita do fenômeno, seja quanto sua abrangência, origens ideológicas ou formas de ação que o caracterizem. Algumas das principais características atribuídas ao fascismo  italiano -nacionalismo, corporativismo, racismo- não estão presentes em todos os regimes ditos fascistas. 

George Orwell, no seu “O que é Fascismo?”, afirma que as definições populares do termo vão de “democracia pura” a “demonismo puro”. Ele mesmo afirma que é uma palavra “quase inteiramente sem sentido”. Isso se deve, principalmente, ao fato de o fascismo não possuir um arcabouço teórico forte, e ter sido determinado, na prática, pelas atitudes de Mussolini. Nas palavras do próprio: “Não temos uma doutrina pronta; nossa doutrina é a ação.” Outros movimentos são bem mais formalizados. O marxismo, por exemplo, antes de ser uma prática política, é uma doutrina com base teórica nos escritos de Marx e Engels. O nazismo, mais próximo do fascismo, teve no livro Mein Kampf (Minha Luta), escrito em 1925 por Adolf Hitler, seu manual de instruções. Mas as regras do regime de Mussolini foram basicamente definidas na hora, no calor do momento.

O fascismo propriamente dito ocorreu em um contexto bem específico da história, mas há quem considere que o regime de Franco, na Espanha, ou o de Salazar, em Portugal, também tenham sido fascistas. Talvez dessa indefinição surja a generalização. Hoje, a palavra virou sinônimo de “extrema direita”, mas é usada até para se referir a “totalitarismo” e “autoritarismo” – o que não faz sentido, já que o regime comunista de Stalin foi ainda mais autoritário que o de Mussolini.

Em suma: a própria definição de fascismo é relativa. E as pessoas vão continuar usando essa palavra cada uma à sua maneira. Mas, na próxima vez em que você escutar alguém usando o termo, saberá do que se trata: alusão a um antigo instrumento de poder romano, que virou símbolo de alguns dos piores momentos do século 20.  

Ainda que vago, no entanto, mesmo sem um aparato ideológico abrangente ou pensadores influentes, há alguns elementos escancarados a respeito da natureza do fascismo. Todos, e isso faz total sentido, ignorados por aqueles que mais utilizam essa expressão. Abaixo, 4 coisas que você precisa saber antes de sair por aí acusando os outros usando esse nome em vão.


1 - ANTILIBERAL



Essa é a primeira coisa que você precisa saber antes de sair por aí acusando alguém usando essa expressão: o maior inimigo do fascismo é o liberalismo. Essa era a opinião de Mussolini, o grande líder totalitário italiano.

“O fascismo é definitivamente e absolutamente oposto às doutrinas do liberalismo, tanto na esfera econômica quanto na política.”

Para ele, o liberalismo era uma espécie de “religião desconhecida” que precisava ser combatida. Mussolini era desses que acreditava que o século dezenove havia sido o grande reinado do liberalismo no mundo e que o século vinte seria o “século de fascismo”. Não por acaso, ele resumiu toda doutrina fascista numa regra muito clara, que virou quase um bordão de tão precisa:


“Tudo para o Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado.”

 Essa é a essência do tal Estado totalitário: é tudo nele e nada fora dele. Ou seja, o fascismo é a ideia que todas as ações humanas devem satisfações a uma organização central. O Estado deve dirigir uma economia corporativista, controlando cada movimento do mercado, ao mesmo tempo em que impõe claros limites às liberdades individuais. Em resumo, esse é o exato oposto do que defendeu toda literatura liberal ao longo dos últimos trezentos anos. Isso também é muito próximo daquilo que os socialistas instituíram em diferentes regimes ao redor do mundo no último século.

Moeller van den Bruck, o ideólogo nazista que serviu como forte influência para o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, captou o sentimento da juventude alemã antes da ascensão de Hitler. Era genuinamente antiliberal.

“O liberalismo é uma filosofia de vida à qual a juventude alemã volta hoje as costas com nojo, cólera e um desprezo especial, pois não há nada mais exótico, mais repugnante e mais contrário à sua filosofia. A juventude alemã dos nossos dias reconhece no liberalismo o arqui-inimigo.”


Para ele, a ascensão do fascismo nos mais diversos cantos da Europa era facilmente explicada: 

“Todas as forças antiliberais estão se unindo contra tudo que é liberal.”


No artigo “A redescoberta do liberalismo”, o alemão Eduard Heimann, um dos líderes do socialismo religioso alemão, era outro a destacar o ódio dos fascistas pelos liberais:


“Hitler jamais pretendeu representar o verdadeiro liberalismo. 
O liberalismo tem a honra de ser a doutrina mais odiada por Hitler.”


Passado tanto tempo, é exatamente por isso que soa tão estúpido quando liberais são acusados de fascistas. Na verdade é o contrário. O fascismo é uma espécie de religião do Estado. É a crença que o Estado deve assumir totalmente a responsabilidade por cada aspecto da vida humana em detrimento do individualismo. O Estado deve gerir o nosso bem-estar e cuidar da nossa saúde. E não apenas isso. Deve também impor uma uniformidade de pensamento – leia-se: instaurar uma ditadura do pensamento único, onde as expressões não são livres, construídas a partir da boa vontade de uma liderança política.

Na prática, a construção de uma sociedade fascista é inteiramente calcada pelo antiliberalismo.


2- TRABALHISTA




Poucos regimes foram tão revolucionários na defesa dos direitos trabalhistas quanto o fascismo. Não por acaso, a nossa própria legislação na área, criada no auge do Estado Novo, por Getúlio Vargas, tem como base um documento italiano do final da década de vinte, a Carta del Lavoro, onde o Partido Nacional Fascista definiu os fundamentos das relações de trabalho. Até hoje, aliás, todas essas determinações não apenas permanecem organizando a vida econômica do país em corporações, com sindicatos patronais e trabalhadores tutelados pelo Estado, como são defendidas em grande parte por militantes de esquerda.

E a CLT não foi o único documento a seguir esse princípio. A própria Constituição Federal de 1937 tem no artigo 138 uma tradução idêntica à declaração III da Carta del Lavoro. E o que ela prevê? A unicidade sindical sob tutela do Estado, as contribuições compulsórias e os contratos coletivos de trabalho, mecanismos que de forma intacta sobreviveram à Constituição de 1988.

Foi dessa maneira que o fascismo mudou a cara do trabalhismo no último século – abraçando o sindicalismo revolucionário e dando ao Estado o papel de tutor das relações laborais, fiscalizando patrões, empregados e determinado cada aspecto da vida do trabalho. Quer dizer, nunca houve no fascismo italiano o interesse em abolir completamente a propriedade privada, como definia a utopia soviética. Os fascistas ousavam dominá-la através de corporações intimamente ligadas ao Estado. Em 1935, os sindicatos fascistas tinham mais de 4 milhões de filiados. Nada parecido havia sido testemunhado proporcionalmente em nenhum outro canto do mundo até então. A Itália era um grande feudo sindicalista.

Do outro lado do Atlântico, essa é a base do trabalhismo tupiniquim: uma cópia escrachada do fascismo italiano. Não apenas no que diz respeito à perpetuação de uma cultura sindical (e nunca é demais lembrar que há mais de 15 mil sindicatos no Brasil), como no fato dessas corporações serem tão próximas ao Estado (de abril de 2008 a abril de 2015, o governo federal repassou mais de R$ 1 bilhão para as centrais sindicais).

Boa parte dos nossos sindicalistas, não obstante, com o dedo em riste acusam seus opositores de fascistas. Nada mais contraditório.


3 - POPULISTA



Há algo inegável a respeito das ideologias: fascistas e populistas de esquerda nasceram como uma espécie de irmãos Karamazov dos dicionários políticos. E não sem motivo.

Em geral, tanto o primeiro grupo quanto o segundo construiu suas plataformas ideológicas no último século a partir do aumento do gasto público, da criação de políticas econômicas equivocadas justificadas para atender as massas, da propagação da ideia que o livre mercado é um mal a ser combatido, da figura centrada num grande líder carismático, do uso das estruturas do Estado para a construção da propaganda oficial, do combate à globalização como proteção à economia nacional, da crença no partido como um instrumento inquestionável de criação de prosperidade e justiça social, da luta contra um inimigo em comum (os norte americanos, o comércio internacional, os judeus), da construção de um discurso que una o grande líder ao “povo” e condene todas as figuras contrárias ao partido como “antipovo”, da perseguição à propriedade privada, da manipulação dos números oficiais, da descrença em escândalos de corrupção do governo.

Isso tudo está em Getúlio, Hitler ou Mussolini. Mas também está em Chávez, Perón e Fidel.

Há evidentes diferenças entre fascistas e populistas de esquerda, certamente. Ainda assim, não é um equívoco apostar que há mais coisas que os aproxima do que os afasta.

4 - AUTORITÁRIO



Sabe aquela imagem estereotipada do grande líder totalitário concentrando todo poder possível nas mãos para dar cabo ao seu plano psicopata de destruir completamente o mundo? Sinto dizer, mas longe dos desenhos animados e dos pastelões de Hollywood, ela é falsa. Em geral, a mesma noção altruísta que teoricamente move políticos dos mais diversos credos ideológicos também inspira diferentes líderes totalitários: todas as suas ações políticas são justificadas a partir de uma hipotética luta pela transformação do mundo vigente, do combate às mazelas históricas, da crença que as suas ideias são naturalmente superiores e benéficas ao maior número de pessoas.

E é justamente graças a esse entendimento que seu plano político é infalível na construção de uma sociedade mais justa e estável, e que seus opositores representam uma ameaça ao bem estar geral da população, que líderes totalitários e seus simpatizantes usualmente criam algumas das ditaduras mais perversas que a humanidade já testemunhou – dentre as quais uma muito peculiar, ainda tão em voga nos dias atuais: a do pensamento único.

Via de regra, todos aqueles que buscam construir o paraíso na terra concentrando poder, acabam produzindo catástrofes infernais.

E se tirania atinge seu ápice na instauração da nova identidade política, com muita repressão policial, ela alcança forte poderio também no campo das ideias. Acreditando defender um mundo moralmente superior, fascistas – assim como seus irmãos bastardos, os populistas de esquerda – condenam aquilo que entendem como pensamento dominante (essencialmente capitalista e individualista) para dar lugar a um novo reino da opinião e das condutas pessoais, construídas sobre o mito da juventude como artífice da história, da total dedicação à comunidade, da camaradagem e do espírito guerreiro e revolucionário. Em geral, fascistas e populistas de esquerda não apenas censuram todos aqueles que destoam de suas crenças, tratados literalmente como politicamente incorretos, como ameaçam fisicamente e moralmente seus opositores.

Dessa forma, a liberdade de expressão vira um mero conceito pequeno burguês: a própria palavra é um instrumento do coletivo, da maioria, do “povo”, e deve ser silenciada quando utilizada pelos não alinhados ao pensamento único. Não apenas os veículos de informação que denunciam descasos do partido são condenados ao descrédito – quando não à censura – como pensadores de oposição acabam tratados como arqui-inimigos dos trabalhadores e do bem comum. Sem escapatória, ou você repete o discurso coletivo, ou você morre abraçado ao riso da estupidez.

Assim, a essa altura do texto, é muito provável que muitos daqueles que você está acostumado a ver acusando os outros de fascistas, com expressões autoritárias, dedos em riste e soluções inquestionáveis para todos os problemas do mundo, quase sempre são eles mesmos os mais fervorosos praticantes do fascismo – um fascismo velado, cínico e demagogo, mas não menos autoritário. Escondidos sob o véu desse autoritarismo do bem, pretensiosamente inclusivo e justiceiro, os fascistas envergonhados dos dias atuais, como os do passado, são quase sempre os primeiros a acusar os outros daquilo que eles mesmos fazem, e justificam seus protestos, suas greves, seus boicotes e suas vaias, com toda uma insolência muito peculiar, à incendiária construção de um novo mundo, mais justo.

Isto posto, não nos resta dúvida que o fascismo atravessou o século e deixou de ser uma marca restrita aos líderes totalitários. Por isso, esqueça Hitler, Vargas ou Mussolini. Olhe ao seu redor. O fascismo é um instrumento da modernidade que concentra sua luta na construção de um mundo melhor através de ações estatais muito específicas e irredutíveis que moldam as particularidades humanas sob a égide do politicamente correto e do pensamento único.


QUANTOS PAÍSES AINDA VIVEM EM DITADURA?

Atualmente, 49 países no mundo vivem em regime ditatorial – segundo levantamento da Freedom House, ONG americana que monitora anualmente as democracias ao redor do mundo.

O relatório de 2018 da ONG aponta para uma “crise democrática” global – uma vez que, pelo 12º ano seguido, a Freedom House encontrou um “saldo negativo”:  o número de países que sofreu com guinadas ao autoritarismo foi maior do que o de nações que tiveram evoluções positivas em seus modelos democráticos.

A Turquia e a Ucrânia foram citadas como exemplos em que as liberdades democráticas, que começavam a se estabilizar, foram novamente desestruturadas. O resumo do relatório pode ser visualizado no mapa abaixo :



SEGUE ABAIXO UM LINK COM MAPA INTERATIVO DAS PRINCIPAIS DITADURAS:



Mas afinal, o que esses estudos querem dizer quando falam em “regimes ditatoriais”?

Também chamadas de “autocracias”, essas nações não permitem voto popular periódico para escolher os governantes e tampouco liberdade de expressão. Em algumas delas, os governos afirmam que são democráticos e até organizam eleições. No entanto, os candidatos da oposição são sempre ameaçados e acabam desistindo ou morrendo “misteriosamente” pouco antes do pleito. Ou então os resultados são pra lá de duvidosos, com diversas acusações de fraude.

Abaixo, alguns exemplos de ditaduras em vigor no mundo.

1. CUBA

Desde 1959

Modelo Estado Comunista
Ditador Miguel Díaz-Canel (desde 2018)
Cuba vive sob regime de um partido único, o Partido Comunista. Mesmo assim, votação por lá só nos municípios com candidatos autorizados pelo partido. Eleição para o cargo de presidente nem pensar. A ilha vive nesse modelo desde a Revolução de 1959, quando Fidel Castro tomou o poder. Não existe liberdade de expressão e a imprensa não pode criticar o governo

2. RÚSSIA

Desde 1991

Modelo República Socialista Federativa
Ditador Vladimir Putin (desde 2000)
Desde que Vladimir Putin assumiu o poder na Rússia, em 2000, ele controlou, aos poucos, a liberdade da imprensa, começou a nomear os governadores sem eleições e perseguiu (ou matou) seus opositores. Alternando entre os cargos de presidente e primeiro-ministro, Putin está no poder há 18 anos. Nas últimas eleições houve denúncias de fraude, mas ele foi eleito assim mesmo

3. CHINA

Desde 1949

Modelo Estado Comunista
Ditador Xi Jinping (desde 2013)
A China é considerada uma ditadura clássica. Além do rígido controle do Estado sobre a política, a censura rola solta: desde a imprensa até a escolha dos filmes que podem entrar nos cinemas. Só existe o Partido Comunista e as eleições são feitas dentro dele, já que membros do partido são os únicos que podem se candidatar e votar

4. EGITO

Desde 2013

Modelo Indefinido
Ditador Abdel Fattah Al Sisi (desde 2014)
O Egito teve sua primeira eleição direta em 2012, após a queda do ditador Hosni Mubarak, que estava no poder desde 1981. Mas o presidente eleito, Mohamed Mursi, durou pouco. O país sofreu um golpe militar com apoio popular e passou por um período de “ditadura temporária”. Ainda mantém a Constituição suspensa

5. OMÃ

Desde 1749

Modelo Sultanato
Ditador Qaboos bin Said Al Said (desde 1970)
É difícil afirmar qual a ditadura mais antiga do mundo, já que existem diversos países que nunca foram, realmente, democráticos. No entanto, o pequeno Omã, no Oriente Médio, chama a atenção por ser governado pela mesma família há mais de 260 anos. Quem manda por lá é o sultão Qaboos bin Said Al Said. Não existe Constituição e boa parte das regras se baseia no islamismo

6. COREIA DO NORTE

Desde 1948

Modelo Estado Comunista
Ditador Kim Jong Un (desde 2011)
A Coreia do Norte tem o regime mais autoritário do mundo. O poder é controlado pelo Partido Comunista e pelas Forças Armadas. Como a economia está em frangalhos, para sobreviver, o país recebe ajuda de China, Japão e Coreia do Sul. O penúltimo ditador do país, Kim Il-sung, que morreu em 1994, foi proclamado o “Presidente Eterno da República”. Seus sucessores tiveram de se conformar com o título de Chefe de Estado.


COMO CRIAR SUA PRÓPRIA DITADURA

É simples, mas não tente fazer em casa
– Nada de dar liberdade à imprensa. Todos devem falar bem do governo

– Evite ter mais de um partido, assim outras opiniões não chegarão ao poder
– Tenha filhos para substituí-lo, caso você morra ou fique velho e doente
– Escolha um grupo de amigos para serem os únicos com direito de votar nas eleições. Avise que eles devem votar em você, caso ainda não saibam
– Tenha uma boa equipe de torturadores e assassinos profissionais


FONTES Livro Ditaduras Contemporâneas, de Maurício Santoro, CIA e sites freedomhouse.org e systemicpeace.org

CONSULTORIA Mauricio Santoro, cientista político, professor e assessor de direitos humanos da Anistia Internacional






Fonte: Revista Superinteressante

segunda-feira, 28 de maio de 2018

ENTENDA COMO OCORREU A GUERRA FRIA


A Guerra Fria foi um período (1945-1990) em que a ordem mundial foi baseada na bipolaridade e nos conflitos indiretos entre as duas maiores potências mundiais da época. De um lado, os EUA liderando o bloco capitalista e do outro a URSS liderando o bloco socialista.

Foi um conflito político, ideológico, armamentista e econômico, mas não houve conflito direto entre esses países. Entre os conflitos indiretos, houve as Guerras do Vietnã e da Coreia, e os golpes militares na América Latina. Outro aspecto essencial dessa Guerra foi a corrida aeroespacial, e nesse contexto a URSS enviou foi o primeiro país a colocar um satélite, um ser humano e uma estação espacial em órbita, e os EUA o primeiro país a chegar a Lua em uma viagem tripulada.

Nos esportes, essa disputa se mostrava de forma intensa. O principal cenário desse confronto eram os Jogos Olímpicos e os dois países, liderando seus respectivos blocos, se esmeravam em demonstrar superioridade também nesse campo.

Além dos aspectos acima mencionados, o mundo, principalmente a Europa, passou por uma reconfiguração territorial sentida mais intensamente por alguns países como a Alemanha e a Iugoslávia, que tiveram suas fronteiras redesenhadas.

O fim desse conflito deu seus primeiros sinais nos anos 70 do século passado, quando as duas potências resolvem fazer seus primeiros acordos de desarmamento. Nos anos 80, a crise econômica da URSS levou à sua derrocada e consequente fragmentação territorial, que ainda tentou manter certa unidade territorial por meio da fracassada Comunidade dos Estados Independentes, criada no princípio dos anos 90.

Para ajudar na compreensão do tema, você pode baixar gratuitamente uma apresentação de slides que eu uso em minhas aulas. Fique à vontade para usar em seus estudos ou em suas aulas: o uso é livre, mas lembre-se de colocar os créditos. 

sexta-feira, 23 de março de 2018

QUAL A DIFERENÇA ENTRE ENCHENTE, INUNDAÇÃO E ALAGAMENTO?

Há uma linha tênue que diferencia enchente, inundação e alagamento. Por exemplo, estamos diante de um quadro de enchente quando temos o aumento do nível da água, porém sem que isso gere o transbordamento. A enchente é causada sobretudo pela elevada vazão da chuva.

Quanto a inundação, ela é caracterizada pelo transbordamento. Este transbordamento inunda a região quando o sistema de drenagem não dá conta da vazão de chuva.

No que diz respeito ao alagamento, ele é definido pelo acúmulo de água e sistema de drenagem sem eficácia ou até mesmo em falta.



REDUZIR ALAGAMENTOS, INUNDAÇÕES E ENCHENTES É POSSÍVEL?

Além de ações públicas de prefeituras, governos e secretarias específicas para tais finalidades, reduzir e prevenir alagamentos, enchentes e inundações passa também por alguns gestos pessoais de cada um.

O clássico descarte de lixo nas vias públicas é o exemplo mais notório a ser eliminado. Mas claro que a problemática não se resume a isto.

No que diz respeito a métodos de proteção e prevenção no caso de problemas oriundos da chuva, alguns dispositivos poderão ajudar. É o caso por exemplo, do uso de comportas residenciais, instalação de válvulas de retenção nas saídas de esgoto, por exemplo, drenos e canaletas.

Na rua, o desentupimento de bueiros é essencial para evitar possíveis tragédias, bem como a retirada de objetos, móveis velhos e jogados pelas vias.

Fazer a manutenção de seu sistema hidráulico também é um fator de segurança, evitando problemas de entupimento devido à alta vazão de água no período de chuvas. Para isso, entre em contato com a Desentupidora Aquarella agora mesmo e tenha a certeza de estar com o encanamento e esgoto fluindo perfeitamente.


O QUE ACONTECERIA SE NÃO EXISTISSEM AS ESTAÇÕES DO ANO?

Você já fez uma lista das coisas sem as quais você não conseguiria viver? Comida, um bom lugar para dormir e, quem sabe, internet? Então coloque aí mais um item: as estações do ano.

De acordo com Don Attwood, antropólogo ecológico na Universidade McGill, em Montreal, os seres humanos nunca teriam avançado, pois passariam a vida batalhando pela sobrevivência e morreriam de doenças transmitidas por insetos caso não fôssemos agraciados com as mudanças incluídas em cada período.

Poderia ser de outra forma? Sim. Foi um pequeno – imenso – detalhe que tornou possível a atual distribuição das estações durante os meses: o eixo de rotação da Terra, que é um pouco inclinado em relação ao Sol.

Se fosse diferente, com a Terra perpendicular ao astro, o clima seria permanente em cada região do planeta, tornando-se mais progressivamente frio à medida que se afasta do Equador. Dessa forma, os seres humanos não conseguiriam sobreviver ao inverno contínuo das altas latitudes e nós teríamos que nos amontoar nas áreas tropicais.


O que aconteceria? 

Vamos pensar na zona tropical úmida, como as florestas do Congo. A precipitação nessas regiões seria implacável, causando erosão e lixiviação no solo, o que tornaria a terra cultivada infértil.

Além dos problemas com a agricultura, os seres humanos seriam importunados por agentes patogênicos, que iriam prosperar em ambientes quentes e úmidos, já que o inverno, que nos protege da proliferação de insetos que podem ser portadores de doenças mortais, não existiria.  

Não é preciso pensar muito para chegar à conclusão de que essas regiões ficariam áridas, o que é ainda pior para a existência de sociedades grandes e complexas.

Nos polos, não haveria variação de luminosidade, o que tornaria o ambiente tão frio que nem os próprios pinguins conseguiriam viver. Já nos lugares quentes, como o deserto do Saara, o clima seria sempre quente e seco. Como vantagem, o mar seria muito mais rico e ajudaria a sustentar a vida no planeta.



O papel do inverno:

Como vimos anteriormente, além de nos proteger de agentes patogênicos, o frio tem outro papel essencial no desenvolvimento humano: a cultura de alimentos. O trigo, por exemplo, só cresce onde há inverno. Outros alimentos, como milho, batata, aveia e cevada, também se desenvolvem melhor onde existe frio. Você já imaginou um mundo sem pão e cerveja?

Há quem acredite que até as revoluções tecnológicas estão fortemente ligadas à existência do inverno; afinal, é nessa época que precisamos manter nossos corpos quentes e o frio teria papel fundamental na Revolução Industrial e em tantas outras tecnologias que foram criadas com esse propósito.

Mesmo que não exista nenhum estudo que comprove a ligação entre o inverno e o avanço tecnológico, faz sentido pensar em tudo que o ser humano seria capaz de inventar para se manter aquecido.