A
EXTINÇÃO DOS PROFESSORES
O ano é 2.020 D.C. – ou seja, daqui a
cinco anos – e uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte
interpelação:
– Vovô, por que o mundo está acabando?
A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:
– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.
– Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?
O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
– Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?
– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.
– E como foi que eles desapareceram, vovô?
– Vovô, por que o mundo está acabando?
A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:
– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.
– Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?
O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
– Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?
– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.
– E como foi que eles desapareceram, vovô?
– Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos
por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio
primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas
as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de
aprovação. Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram
aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais
interessados conseguiam aprender alguma coisa.
Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que
passaram a ser vistos como empregados de seus filhos. Estes foram ensinados a
dizer “eu estou pagando e você tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu
pai não estudou e ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de
mesada do que você ganha”. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os
professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas
particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do
ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores,
dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”. O
professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era
destinada por pobres e ricos. Viraram saco de pancadas de todo mundo.
Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na
obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer
faculdade que fosse.
“Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai
fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais nas reuniões com as
escolas. E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos
passarem no vestibular. Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as
discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas. Com a Internet,
os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais
ninguém precisou ir à escola para estudar a sério.
Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram
gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão.
Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer
que a culpa era do professor. As pessoas também se tornaram descrentes da
educação, pois viam que as pessoas “bem sucedidas” eram políticos e empresários
que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da
televisão – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade.
Fonte: http://mariotextos.blogspot.com.br/2012/04/extincao-dos-professores.html